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O MTST e o internacionalismo popular tecendo territórios para a vida digna

Por Rud Rafael, militante do MTST, da Frente Povo Sem Medo e da TELAR – Territorios Latinoamericanos en Resistencia

 

Em setembro de 2023, no dia em que se celebrou os 53 anos da vitória de Salvador Allende nas eleições presidenciais do Chile, estivemos presentes em ato realizado no palácio da presidência do país, La Moneda, em homenagem à memória de uma conquista tão importante para a luta dos povos da América Latina.

 

Era abril de 2020, momento de profundas incertezas e disputa de rumos no mundo. O MTST junto ao Congreso de los Pueblos (da Colômbia), Confederación de las Nacionalidades Indígenas de Ecuador – CONAIE (do Equador), Frente Popular Darío Santillan (da Argentina) e Movimiento de Pobladores Ukamau (do Chile) anunciavam: “as organizações populares, somos a primeira linha de resistência frente às piores expressões do sistema em decomposição”. 

Essas eram algumas das primeiras linhas do Chamamento aos povos originários e organizações populares da América Latina, que seria assinado por mais de 160 movimentos de 16 países da região. O documento era uma convocatória, mas também o esboço de uma agenda política das organizações populares para enfrentar as múltiplas crises que estavam em curso. 

E isso vinha de organizações que haviam protagonizado estallidos sociais no ano anterior na Colômbia, Chile e Equador e feito enfrentamentos importantes à extrema direita e a contextos de avanço violento do neoliberalismo na Argentina e no Brasil. Grande parte delas conformavam a Frente de Resistência Latinoamérica, articulação de movimentos territoriais urbanos que vinham em diálogo há alguns anos e decidiram assim nomear o espaço quando do encontro de 20 anos do MTST, em 2017.

Essas articulações se moviam por uma concepção de um internacionalismo dos povos, pensado e construído a partir dos territórios e já tinham rendido importantes aprendizados, como a aproximação com a experiências dos comedores e merenderos na Argentina, que foi o germe para a construção da Cozinha Comunitária de São Gonçalo – RJ, que mais tarde daria origem às Cozinhas Solidárias. Cozinhas como a de Roraima, que em seu funcionamento acolhe, em sua maioria, imigrantes venezuelanas(os), mas experiência que também foi levada para a África de Sul, a partir de diálogos construídos entre organizações.

E assim, sob a identidade de piqueteiros (Argentina), de pobladores (Chile), sem-teto (Brasil), defendendo o poder popular, a vida digna ou a vida boa; esses movimentos foram tecendo um projeto comum, que incorporou outros movimentos territoriais, pela compreensão de que é fundamental articular campo-cidade-floresta para a formulação de alternativas. Alternativas que se materializam em ocupações, projetos de moradia popular, cooperativas de trabalho nos mais diversos ramos, espaços de soberania alimentar (cozinhas solidárias, hortas, ollas comunitárias, comedores, etc.), escolas de educação popular (cursinhos, bachilleratos), casas culturais, creches, territórios campesinos agroalimentares, iniciativas de comunicação popular, na formação de guardas interétnicas e tantas outras iniciativas de soberania e autogestão populares.

Neste sentido, também em função da unidade estratégica que foi se constituindo a partir desses vários processos de intercâmbio, o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) também compôs a construção, que passou a se chamar TELAR – Territorios Latino Americanos en Resistência

Um novo marco desse processo se deu em outro momento importante para o MTST, dessa vez no Encontro de 25 anos do MTST, no ano passado, em que tivemos a participação de das organizações da TELAR nas mesas de debate, mas também avançando no desenho da proposta de construção de Territórios para a Vida Digna, que tenham 5 eixos de avanço concreto

  1. A defesa e a proteção da vida

  2. Feminismos e diversidades

  3. Economia popular e trabalho

  4. Soberania e bens comuns

  5. Antirracismo e migrações

 

Apontando para essa larga tradição de organização política e inteligência criativa que aponta horizontes utópicos na América Latina, nós vamos alargando as perspectivas de um mundo livre das opressões capitalistas, imperialistas, racistas, patriarcais e anti-diversidades. Vamos buscando dar resposta à crise ambiental, porque são nos nossos territórios onde preservamos modos de vida coletivos e integrados a uma lógica de justiça climática. E vamos construindo pontes estratégicas, como a que estamos fazendo com a Internacional Progressista, articulação global que tem agregado diversos setores políticos.

São diversas as possibilidades que essa abertura de janelas para o mundo, a partir da experiências dos povos em resistência, trazem. Nesse momento, está nascendo nosso Centro Popular de Pesquisa, que envolve a participação de migrantes das ocupações do MTST do Haiti, Venezuela e Cuba, por exemplo. Em um contexto em que cada vez mais sofremos rebatimentos dos processos globais e somos convocadas(os) a construir solidariedade, como no caso da reivindicação por libertação da Palestina, que sejamos no cotidiano expressões da internacionalização da luta e da esperança.