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Nenhuma Linha Cortada | SP Sem Medo ocupa, resiste e vence na Secretaria de Transportes

Secretário Sérgio Avelleda garantiu que SP não perderá nenhuma linha de ônibus até que a população seja ouvida e consultada

Audiências públicas devem ocorrer em todas as subprefeituras paulistanas

Se os compromissos firmados na Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes na noite desta quarta-feira, 21 de março, forem honrados, a cidade de São Paulo não terá nenhuma linha de ônibus cortada até que o assunto seja amplamente debatido com a sociedade. Foi essa a vitória conquistada, com muita luta e paciência, pela SP Sem Medo e a sociedade civil organizada após reunião com o poder público.

“O compromisso é que não haverá nenhum corte até que aconteçam todas as licitações, que o povo seja consultado e o povo decida se de fato ele quer uma nova linha ou não, um rearranjo ou não”, contou Michel Navarro, coordenador do MTST. Junto de sete companheiras e companheiros, Michel se reuniu com o secretário de Transporte e sua equipe:

Eles se mostraram muito avessos a virem aqui e falar a real frente a frente com o povo. Temos que ficar atentos, pressionar para que acontençam essas audiências, mobilizar o povo da periferia para estar presente nessas audiências porque nós não vamos deixar que eles cortem as linhas de ônibus.“.

 

Eram pouco mais de 2 mil pessoas reunidas na praça da República por volta das 15 horas, quando teve início o protesto contra os cortes nas linhas. Diversas ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto se fizeram presentes através de seus e suas militantes. “Bairros Sem Medo”, como são conhecidos os coletivos organizados de cada região da cidade, também somaram na luta.

Tudo por conta do anúncio da gestão Doria em mexer, ao todo, em mais de 300 linhas de ônibus de São Paulo. Seriam 149 linhas cortadas e outras 186 alteradas, em sua maioria com o trajeto reduzido. As mudanças, comunicadas sem diálogo prévio com a população, previam a retirada de circulação de 963 ônibus.

O interesse do grande plano da prefeitura, oculto sob o pretexto de uma “maior racionalização do transporte”, é diminuir a extensão dos trechos cobertos e ampliar o itinerário para gerar mais lucro para os empresários do setor. Com um cenário mais lucrativo a oferecer, mais interesse ganha a licitação do transporte público da cidade, que decidirá o futuro do transporte paulistano para os próximos 15 anos.

“Uma ideia central dessa licitação é obrigar a gente a pegar cada vez mais baldeações. Não é coincidência quase 40% das linhas cortadas (reduzidas) ou extintas, cada vez menos acesso ao centro e nenhuma alternativa entre os bairros!” – MPL/SP.

Os mais prejudicados com as alterações seriam justamente aqueles e aquelas que moram mais longe do centro expandido, obrigados a fazer mais baldeações e, consequentemente, perder mais tempo e dinheiro em seus deslocamentos diários.

“Não tem arrego: ou negocia ou não vai ter sossego”

Após deixar a praça da República, o protesto convocado pela SP Sem Medo passou pelo Theatro Municipal e parou em frente à sede da prefeitura, no Viaduto do Chá. Ali, o prefeito João Doria, agora ungido candidato ao governo do estado pelo PSDB, foi devidamente lembrado.

“Não é mole, não, o almofadinha quer tirar nosso busão!”

Uma professora da rede pública municipal pediu a palavra para relatar a luta dos servidores contra as alterações da gestão Doria no Sampaprev, o programa de previdência do setor. Na semana passada, milhares de professores tomaram a Câmara Municipal em protesto e receberam, em troca, cacetadas, bombas e gás por parte da Guarda Civil Municipal.

Dali, o ato seguiu pelas ruas do centro até desembocar na rua Boa Vista, sede da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, imediatamente ocupada pelo movimento. Em instantes, o poder público estava avisado de que ou negociava ou o prédio da Secretaria ganhava novos inquilinos — permanentes.

Diante da pressão popular, o secretário de transportes Sergio Avelleda e sua equipe aceitaram receber uma comissão de 8 representantes dos manifestantes. O detalhe insólito é que, após uma longa e tensa espera, entre idas e vindas de assessores e manifestantes, Avelleda estava com medo da multidão.

Por isso, o secretário de transportes preferiu não atravessar os 200 metros que separam o prédio da secretaria de outro, da SPTrans, onde se encontrava. Ao invés de Avelleda ir até o protesto, o protesto teve de ir até ele, onde enfim a reunião começou sob gritos e cantoria.

Já eram quase 20 horas quando a comissão saiu aclamada. Um dos representantes, Michel Navarro foi um dos que trouxe as boas novas: “embora a licitação continue avançando, eles não vão cortar as linhas que tinham anunciado que cortariam. Aí, se firmou que vão ser feitas audiências em todas as subprefeituras para conversar sobre a licitação e sobre as propostas que eventualmente eles tenham de novos ordenamentos”.

Esse foi o primeiro recado e eles sabem disso, a gente deixou claro. Se houver qualquer corte, a mobilização vai ser forte.

MTST, A LUTA É PRA VALER