Copa e Política | Mbappé e Lukaku: os feiticeiros negros de uma Europa em chamas
O jogo Bélgica X França desta terça, pela semifinal da Copa da Rússia, não foi qualquer jogo. Para além das críticas justas ao crescente poder dos clubes europeus no futebol, a Copa do Mundo de 2018 revelou para o mundo que a Europa, talvez, não seja mais a mesma. O fracasso da União Européia, por um lado, e o desespero da extrema direita do continente por outro, são expressões exatas da falência de um projeto branco de identidade nacional que hoje aposta todas as fichas na criminalização da imigração.
O que teme a Europa branca?
O texto de Lukaku que rodou o mundo corta como faca o delírio da supremacia branca europeia. “Quando jogo bem, me chamam de belga, quando jogo mal, sou congolês” (…) “Eu sou belga. Eu consigo começar uma frase em francês e terminar em holandês, e posso jogar umas palavras em espanhol ou português ou Lingala”, completa Lukaku.
Mbappé e Lukaku, os dois feiticeiros negros de uma Europa em chamas jogaram por seus países carregando no corpo a história da violência colonial mas também toda a inteligência, leveza e força das novas gerações que não cabem mais nesse projeto de nação. São as periferias em chamas, o sonho vivo do futebol como redenção, a inteligência do corpo em diáspora que domina línguas, ritmos, postos de controle e ainda consegue correr a 38km por hora com uma altivez perturbadora.
Por isso suas equipes hoje não são a representação do projeto colonial, mas talvez seja mesmo o retrato de sua derrocada. O futebol de Lukaku e Mbappé são danças de fúria e liberdade – um respiro diante de um projeto moderno (de futebol e de nação) cuja força ordenadora sempre foi a de controlar a alegria do imprevisível.
“Eles não precisam checar meus documentos agora. Agora, eles sabem meu nome”, Romelu Lukaku
Por Alana Moraes