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Guilherme Boulos: A “solução” Huck

Fonte: CartaCapital

Por Guilherme Boulos, coordenador do MTST

O animador de auditórios da Globo afirmou que desistiu mais uma vez. Ainda sem candidato, o establishment tenta apostar no “novo”

Ao lado de Aécio Neves e Ronaldo, Luciano Huck ganha o prêmio “Os Brasileiros do Ano” | Omar Freire/Imprensa MG

Desenhar o cenário político brasileiro em 2018 não é tarefa fácil. O velho sentimento antipolítica, nutrido no Brasil há muito, seja pelo abismo que separa Estado e sociedade, seja pela desmoralização quase completa dos políticos de carreira, anda revigorado. Escândalos de corrupção e justiçamentos com direito a espetáculo midiático reacenderam nosso “ódio pela política”.

Isso torna muito imprevisível o cenário para as eleições de outubro. Todo mundo sabe: Lula, se puder ser candidato, é favorito. Também é notório que os esforços do Judiciário para retirá-lo do processo eleitoral são ostensivos. Trata-se, para eles, de completar a tarefa do golpe.

Mesmo se conseguir impedir Lula no tapetão, os problemas do establishment brasileiro não estarão resolvidos. Até aqui não conseguiram encontrar uma alternativa eleitoral “segura”. Muitos dos seus representantes chafurdaram em malas e propinas, o que foi demonstrado publicamente com algo mais do que convicções.

As velhas raposas perdem apelo e a popularidade daqueles “de sempre” é desalentadora. Sabem que um candidato com programa similar ao de Michel Temer, isto é, privatizações, cortes de investimentos e ataques frontais a direitos constituídos, tem poucas chances de vencer nas urnas.

Isso talvez explique a bigorna amarrada ao pé de Geraldo Alckmin nas pesquisas. O mesmo argumento explica em parte a popularidade de Jair Bolsonaro, que mobiliza sentimentos antissistêmicos com seus discursos de ódio e intolerância, alguém que vai “acabar com esta bandalheira”.

Vende peixe podre e esconde-se atrás de uma imagem que não é a sua, mas tem encontrado boa audiência. O ex-capitão não é, no entanto e exatamente, um candidato do establishment. Seu flerte com o liberalismo ainda não convenceu a turma do mercado nem o partido da mídia. É preciso encontrar uma solução.

Um candidato do suposto “centro”, da base de Temer, como Meirelles ou Maia, sofre: não pode falar a verdade sobre seu programa, pois não teria a mínima chance. Foi por esta razão que Alckmin afastou-se de Temer como se fugisse de um vampiro.

O governador de São Paulo segue como o plano A do establishment, até que se prove o contrário. Ou melhor, até que as pesquisas de opinião mostrem que ele não decola. E se, de fato, não decolar, precisarão de um plano B, que há meses está no forno.

Alguém que pudesse sustentar uma imagem “de fora” da política, mas ao mesmo tempo mantivesse o compromisso dos “de dentro”; que não esteja envolvido na vida política do País, que consiga mobilizar sentimentos populares e dialogar com todo o Brasil. Que tal um jovem empresário e apresentador da TV Globo? Loucura?

Luciano Huck é um jovem milionário. Foi empresário de entretenimento antes de se tornar celebridade nacional. Conectado com a ideia de empreendedorismo, administra ONGs e financia a produção de filmes, fazendo valer também seu lado de “empreendedor social”. Em seu programa, reforma casas e carros, além de outras pirotecnias que sustentam a sua popularidade.

Tido por alguns como um benfeitor desprendido, consegue entrar na casa do povão e transmitir confiança. Bom menino, trabalhador e cheio de sucesso. Vai transformar essa “lata-velha” num “lar doce lar”.

Elogiado por FHC como alguém que poderia “chacoalhar” a política tradicional, Huck tentou incorporar o “novo”. Há um roteiro escrito e ele esteve tentado a protagonizá-lo. Mas, como diria um velho sábio, sempre tem um porém… Huck não está em um programa de auditório. E não é tão “novo” assim.

Apesar de ter apagado as fotos de suas redes sociais, Huck não poderia fazer esquecer que posou com Aécio em plena torcida na apuração de 2014. Pouco adiantaria dizer que “se decepcionou” com o amigo. Também não poderia negar ser ou ter sido muito próximo de Eike Batista e Sérgio Cabral, que, aliás, fez um decreto para garantir o seu “direito” de manter um casarão em Angra dos Reis que invadiu uma área pública.

Seria ainda lembrado, se fingisse esquecer, do episódio das camisetas utilizadas por crianças com a frase “Vem ni mim que eu tô facin”, à venda no site de uma empresa sua. A mais recente pedrada no telhado de Huck foi a divulgação de um empréstimo tomado no BNDES, com juros subsidiados, para comprar um jato particular. Um pouco incoerente com a ética “renovadora” e “liberal” da estrela global.

Ainda assim, Huck surge (surgia?) como possibilidade real de solucionar um impasse para a ordem. Pode ser um balão de oxigênio para manter a sobrevida da Nova República por aparelhos, ao canalizar imaginariamente a insatisfação geral com a política. Mas, conhecendo os personagens atrás das máscaras, a “solução” seria de curto alcance.