Analise as diferenças de discurso | Boulos x Bolsonaro: o que pensam e propõem os candidatos dos “extremos”
Em entrevista ao O Povo, os pré-candidados Jair Bolsonaro (PSL) e Guilherme Boulos (Psol) respondem a perguntas comuns
Ocupando polos opostos no espectro ideológico, os pré-candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e Guilherme Boulos (PSOL) estiveram em Fortaleza na última semana. Na Capital, participaram de atividades em lados diferentes da Cidade, arregimentando a militância. Boulos reuniu-se com professores e integrantes do MTST no campus da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Já Bolsonaro falou a apoiadores no auditório de um hotel na Praia de Iracema.
A ambos foi apresentada pelo O Povo uma lista com perguntas comuns. As respostas dos dois postulantes seguem na entrevista.
“Um cara [Bolsonaro] que fala um negócio desse [faz apologia ao estupro, como no caso da deputada Maria do Rosário (PT-RS)] tem que estar preso e não teria nem que ser candidato a presidente da República”
Bolsonaro evitou algumas questões. A outras, saiu-se com evasivas, como quando se referiu ao ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão e um dos dirigentes mais influentes do PR, sigla com a qual o PSL de Bolsonaro tem mantido conversas.
Segundo levantamentos mais recentes de intenção de voto, como Ibope e Datafolha, o ex-capitão do Exército vem liderando nos cenários em que o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é testado. Bolsonaro tem percentuais que variam de 15% a 17%, a depender do instituto de pesquisa.
Boulos, por outro lado, não tem conseguido pontuar nas sondagens. Nos últimos dias, o pré-candidato do PSOL partiu para o ataque contra Bolsonaro. “Quando faz apologia ao estupro, como no caso da deputada Maria do Rosário (PT-RS), sendo que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, isso precisa ser enfrentado”, disse o presidenciável. E completou: “Um cara que fala um negócio desse tem que estar preso e não teria nem que ser candidato a presidente da República”.
O militar respondeu: “Quem é o Boulos? Invasor de propriedade alheia?”. Confira os principais trechos da conversa.
“Nós vamos chamar o povo para decidir, e nós conhecemos a posição do povo a respeito disso. Todas as pesquisas mostram que o povo não quer reforma trabalhista, não quer congelamento de investimento público por 20 anos, não quer entregar o pré-sal para empresas estrangeiras”
O Povo: Se for eleito, vai revogar ou manter as reformas já aprovadas pelo governo Temer (trabalhista e teto de gastos)?
Guilherme Boulos: Nós vamos revogar (as reformas). Vai ser a primeira medida nossa. Nós vamos chamar o povo para decidir, e nós conhecemos a posição do povo a respeito disso. Todas as pesquisas mostram que o povo não quer reforma trabalhista — o povo não votou nisso —, não quer congelamento de investimento público por vinte anos, não quer entregar o pré-sal para empresas estrangeiras. Como primeira medida no dia 1° de janeiro de 2019, nós vamos apresentar para o Congresso Nacional e para a sociedade um plebiscito para revogar as medidas do governo de Michel Temer.
Jair Bolsonaro: A trabalhista mantém, sim. A da Previdência vai ser outra. O teto de gastos vou manter também.
O Povo: Na campanha eleitoral à Presidência da República, pretende fazer alianças com partidos investigados na Operação Lava Jato?
“Aliança por cargo, aliança fisiológica como se fez no Brasil, essa nós não queremos. Nós queremos uma aliança para mudar a sociedade brasileira”
Guilherme Boulos: A nossa aliança não é apenas partidária. A nossa aliança é partidária com PSOL e PCB, mas aqui tem aliança de movimentos sociais. Olha, aqui está o MTST, a articulação dos povos indígenas do Brasil, a Sônia Guajajara, que é minha companheira de chapa — a primeira indígena numa chapa presidencial na história do País —, Mídia Ninja, movimento de mulheres, movimento negro, movimento LGBT, universidades, professores, estudantes, artistas. É uma costura que vem de baixo pra cima, é uma nova aliança. Aliança por cargo, aliança fisiológica como se fez no Brasil, essa nós não queremos. Nós queremos uma aliança para mudar a sociedade brasileira.
Jair Bolsonaro: Minha negociação chama-se Valdemar Costa Neto (ex-deputado condenado no mensalão, Neto é dirigente do PR). Ou melhor, Magno Malta (senador do PR). Não tenho nenhum contato com o Valdemar Costa Neto… Mas qual o partido que não tem gente complicada?
O Povo: O senhor defende um Estado mínimo? Qual o tamanho ideal do Estado?
Guilherme Boulos: Estado mínimo pra quem? Porque eu vejo gente defendendo Estado mínimo na hora de investir em saúde, em educação, em programas sociais, mas defende Estado máximo para salvar banqueiro e dar desoneração para grandes empresários. Aí não dá. Defende Estado máximo para ser um Estado penal que encarcera mais gente, que prende, que mata.
“Nós somos a sétima economia do mundo, mas somos um país com muitas desigualdades. É momento de enfrentar essa desigualdade. Isso não se faz sem investimento público. O Estado precisa investir”
Não, nós defendemos um Estado que faça os investimentos públicos necessários para que o povo brasileiro tenha os seus direitos assegurados, que invista em educação, que invista em saúde, que invista em moradia, em política de assistência social, porque é isso que a população espera.
O Brasil é um país profundamente desigual. Nós não somos um país pobre. Nós somos a sétima economia do mundo, mas somos um país com muitas desigualdades. É momento de enfrentar essa desigualdade. Isso não se faz sem investimento público. O Estado precisa investir. Pra isso precisa tirar de quem tem mais. Precisa fazer uma reforma tributária, fazer que os super-ricos, que são o 1%, comecem a pagar a conta do Estado brasileiro. Hoje quem paga imposto no Brasil é trabalhador pobre e de classe média.
Nós temos que mudar isso. Temos que encerrar essa política absurda de desonerações. São R$ 283 bilhões de desoneração para empresas, e muitas delas são grandes empresas, sem reverter em emprego para a sociedade. Não dá pra ser desse jeito. O Estado tem que ter capacidade de investimento. Nenhum País sai da crise sem isso.
Jair Bolsonaro: (não respondeu).
O Povo: O senhor pretende ampliar as políticas afirmativas para minorias?
Guilherme Boulos: Na verdade são políticas da maioria. A maioria do povo brasileiro é que está nessa situação. Nós vamos retomar programas sociais, políticas públicas, aprofundar ainda mais essas políticas de moradia, de saúde, de educação, investir mais em universidade pública, ensino básico público.
“Nós vamos ampliar programas como o Bolsa Família e vamos retomar e ampliar política de valorização do salário mínimo no Brasil. Isso é essencial”
Nós vamos ampliar programas como o Bolsa Família e vamos retomar e ampliar política de valorização do salário mínimo no Brasil. Isso é essencial. Ao mesmo tempo, é preciso enfrentar tabus, desigualdades históricas, garantir o direito das mulheres, dos negros e negras, de populações que são historicamente oprimidas, como os LGBTs, indígenas, quilombolas. Isso vai estar seguramente na agenda do nosso governo.
Jair Bolsonaro: (não respondeu).
O Povo: Em um futuro ministério do seu governo, como será a participação feminina?
Guilherme Boulos: Nós vamos ter mulheres no mínimo na metade do nosso ministério. Minha companheira de chapa que está comigo nessa caminhada, Sônia Guajajara, uma mulher guerreira, indígena… E, além de ter mulheres, nós vamos ser um governo em que as mulheres tenham voz e que suas pautas sejam encampadas por esse governo. Pautas como direito de decidir sobre os seus corpos, pautas como políticas de enfrentamento da violência contra a mulher, pautas como o enfrentamento ao machismo estrutural que ainda existe. Tudo isso será o centro do nosso governo.
Jair Bolsonaro: Vou ter uma equipe de 15 ministros. Se forem todos gays, machos, fêmeas, brancos, negros, não me interessa. Eu quero é que eles deem conta do recado. Eu não tô preocupado com isso.
O Povo: O senhor tem sido chamado de extremista por fração da classe política. Considera-se um radical?
Guilherme Boulos: Extremista é a realidade brasileira. Extremista é seis bilionários terem mais riqueza que milhões de pessoas. Extremismo é ter mais casa sem gente do que gente sem casa no nosso País. Extremismo é ver essa realidade tão desigual, tão doída, e as pessoas naturalizarem isso e questionarem quem se indigna com isso. Se indignar contra uma realidade injusta é um direito de todos nós e defender propostas que não estejam comprometidas com os grandes interesses econômicos e políticos é um dever nosso.
Jair Bolsonaro: (não respondeu).
Fonte: O Povo