Acordo não encerra greve e caminhoneiros param pelo quinto dia seguido
Fim dos bloqueios era dúvida, pois não aderiu à proposta justamente a maior e mais ativa das entidades, a Abcam, que reúne 700 mil trabalhadores
O acordo fechado entre governo e sindicatos na noite desta quinta-feira 24 não teve efeitos práticos sobre a greve dos caminhoneiros, que entra hoje no seu quinto dia seguido. Apesar da trégua de 15 dias acordada pelos representantes dos motoristas, há registros de bloqueios em estradas em 24 estados e no Distrito Federal.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) disse que o Rio Grande do Sul lidera no número de bloqueios, com 74 no total. O Paraná vem logo na sequência, com 72, enquanto Minas Gerais e Mato Grosso do Sul aparecem com 51 e 42, respectivamente.
Após uma longa reunião em Brasília na noite de ontem, um grupo de ministro apresentou as propostas para suspender por 15 dias a greve dos caminhoneiros iniciada na segunda-feira 21 e que provoca desabastecimento de combustíveis, alimentos, medicamentos e peças industriais.
O Palácio do Planalto prometeu acelerar a isenção de impostos para o diesel e gasolina e dobrar a extensão do corte do preço do diesel nas refinarias anunciado pela Petrobras (o prazo subirá de 15 dias para 30 dias). Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, declarou que 3 das 4 entidades de trabalhadores que participaram do encontro assinaram um termo de compromisso.
No entanto, o fim da greve já era dúvida. Quem não aderiu à proposta foi justamente a maior e mais ativa das entidades, a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), que reúne 700 mil trabalhadores do setor.
O presidente da associação, José da Fonseca Lopes, reiterou ontem que só vai interromper o movimento de protestos da categoria depois de o governo federal sancionar a lei que zera o PIS/Cofins sobre o óleo diesel. A votação no Senado era esperada para ontem, o que não aconteceu. Só depois de aprovado o texto segue para a sanção. Essa redução de impostos pode tirar até 14% do preço do combustível na bomba nos postos de abastecimento.
Os efeitos na vida da população se somam. Além dos contratempos na locomoção decorrentes dos bloqueios em estradas, a crise dos combustíveis provoca desabastecimento, falta de gasolina em postos, cancelamento de voos em aeroportos e alta de preços de produtos diversos.
A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) informou que os efeitos do da greve no sistema de abastecimento de frutas, legumes e verduras na capital paulista foram bastante sentidos pelos comerciantes de modo geral.
A maioria dos atacadistas não recebeu mercadoria. Até o final da tarde de ontem a produção vinda do interior de São Paulo conseguiu chegar aos entreposto em pequenas quantidades, como as citrícolas, verduras e boa parte dos legumes.
Com isso, alguns produtos provenientes de outros Estados já começaram a faltar no mercado, como o mamão formosa, o melão e o maracujá, e outros, como a batata, registraram alta nos preços praticados devido à poucas oferta do produto. No Pavilhão Mercado Livre do Produtor (MLP), onde são comercializadas verduras e hortaliças, operou-se hoje com menos de 50% de sua capacidade, ocasionando uma subsequente elevação de preços. Há produtos, como a batata, com alta de preço na casa dos 90%.
No Aeroporto de Brasília a reserva de combustível se esgotou na manhã de hoje. Com isso, todos os voos que pousarem em Brasília e que precisem de abastecimento ficarão em solo até o fornecimento de combustível ser normalizado. Ainda segundo a Inframerica, a única alternativa é o avião pousar com capacidade para decolar sem a necessidade de abastecimento no terminal. A situação, ainda assim, não implica o fechamento do aeroporto.
De acordo com a assessoria de imprensa da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), o fluxo de caminhões no porto de Santos praticamente não ocorre e verifica-se redução nas operações de recepção e entrega de mercadorias pelos terminais, embora as operações de carga e descarga de navios continuem a ser realizadas.
No porto de Paranaguá (PR), a última atualização é de que os protestos diminuíram o movimento de cargas em 27% ante o normal para esta época do ano. O terminal registrou uma queda nas exportações de granéis, ao passo que a importação de fertilizantes foi interrompida em berços de atracação em que o transporte da carga é feito por caminhões.
Preço em queda
Após o movimento dos caminhoneiros, a Petrobras tem reduzido o preços da gasolina nas refinarias e anunciou o quarto corte em quatro dias. O preço do litro da gasolina cairá 0,32% a partir deste sábado 26, passando de 2,0160 reais para 2,0096 reais. Já o preço do diesel segue congelado em 2,1016 reais, conforme anunciado anteriormente.
Em maio, já foram anunciadas 12 altas e cinco quedas no preço da gasolina. A Petrobras adotou novo formato na política de ajuste de preços em 3 de julho do ano passado. Segundo a nova metodologia, os reajustes acontecem com maior frequência, inclusive diariamente, refletindo as variações do petróleo e derivados no mercado internacional, e também do dólar. Na véspera, os preços do barril de petróleo fecharam em queda de mais de 1%; já o dólar fechou em alta de 0,62%.
Apesar do novo anúncio de redução no preço da gasolina nas refinarias, o repasse do corte para o valor pago pelos consumidores nas bombas não é garantido e pode demorar a chegar, uma vez a decisão final é dos postos de combustíveis, que enfrentam uma crise de abastecimento em razão da paralisação dos caminhoneiros.
Fonte: Carta Capital