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Ocupação 6 de Abril, em Niterói, expõe deficit habitacional que atingiu 3,7 mil famílias na região em 2015

21/05/2018

Após 43 dias, ação do MTST mobiliza cerca de 180 famílias no Sapê

Instalado há 43 dias, no Sapê, a Ocupação 6 de Abril continua crescendo. Em busca de moradia, cerca de 180 famílias aderiram à ocupação liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) numa área particular, de cerca de dez mil metros quadrados. O movimento ocupou um terreno no Largo da Batalha, em 2015, com 350 famílias. O grupo lembra os oito anos da tragédia do Bumba e cobra das autoridades o enfrentamento de um problema perceptível nas calçadas da cidade, mas obscuro no intrincado universo das estatísticas oficiais: o deficit habitacional.

Em 2015, a Secretaria municipal de Habitação estimou que o problema atingia 3.700 famílias, levando em conta moradores de áreas de risco e beneficiários do programa Aluguel Social. A prefeitura não atualizou os dados deste ano. Em 2011, um levantamento feito pela consultoria gaúcha Latus para a implantação do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS), jamais transformado em lei, estimava uma defasagem de 20 mil unidades habitacionais na cidade.

No mesmo período, o Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais da UFF (Nephu) publicou um estudo no qual estimava em 40 mil o número de niteroienses que viviam em assentamentos precários ou informais. Pessoas como a doméstica Lúcia Costa da Silva, que não tem casa e dorme no trabalho. Por isso, é uma das manifestantes presentes na ocupação do Sapê, embora não esteja entre as que passam todas as noites no local.

Não tenho condições de pagar aluguel e muita gente enfrenta esse drama. Se a patroa nos mandar embora, para onde iremos? Nem trabalhando, como estou hoje, tenho condições de pagar um aluguel — afirma.

Professora do curso de Arquitetura da UFF, a urbanista Regina Bienenstein considera conservadora a estimativa da prefeitura. Para ela, o dado é importante, mas não pode ser chamado de deficit.

— Para ser tratado dessa maneira, o levantamento precisa levar em conta outras informações, como moradores em situação de rua, e coabitação, quando mais de um núcleo familiar ocupa uma unidade residencial, além de médias superiores a três moradores por cômodo e de aluguel excessivo, isto é, quando o valor pago para garantir a moradia compromete mais de 30% do orçamento familiar — analisa.

Desde o ano passado, de acordo com a Fundação João Pinheiro, que produz estudos com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Municípios (Pnad) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aluguel excessivo é responsável por mais da metade do deficit habitacional do país. No início do mês, a fundação divulgou os dados mais atualizados, relativos a 2015. Naquele período, havia no estado carência de 460 mil moradias. A instituição não disponibiliza números por cidade, que devem ser coletados no Censo de 2020.

Estabelecida no dia 6 de abril, a ocupação no Sapê cobra o atendimento das demandas por habitação para as famílias que estão no local. Coordenadora estadual do MTST, Fabiana Batista explica que o movimento não exige que os assentamentos sejam feitos exatamente na área ocupada:

É claro que as ocupações buscam também atrair visibilidade para a causa, mas queremos que o problema seja resolvido, não precisa ser exatamente aqui onde estamos. A temática habitacional deveria ser mais sensível para Niterói, que passou pela grande tragédia socioambiental do Bumba. Mas os apelos não são atendidos, e, quando isso acontece, resultam em iniciativas como o Condomínio Zilda Arns, no Fonseca, de péssima qualidade.

Zonas de Especial Interesse Social

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Niterói, Talíria Petrone (PSOL) lembra que a ampliação das Zonas de Especial Interesse Social no novo Plano Diretor, que aguarda segunda votação em plenário para virar lei, é instrumento para redução do deficit:

Em nota, a prefeitura informa que, nos últimos três anos, entregou 1.550 unidades habitacionais e que negocia a construção de outras 4.200. Promete entregar nas próximas semanas casas para 280 famílias na Ititioca.

Sobre a ocupação no Sapê, afirma que negocia com o MTST, que desapropriou o terreno, fez estudo topográfico e um projeto de construção de moradias. A prefeitura alega ainda que atua junto ao Congresso pela liberação de emendas parlamentares que garantam recursos para a execução do projeto.

 

Por Stéfano Salles

Fonte: O Globo