Como o feminismo ajuda indígenas a superar um trauma histórico
Suas ancestrais foram assassinadas e estupradas mas, hoje, elas se organizam para trocar experiências e participar da construção de políticas públicas.
Feminismo e empoderamento feminino é uma discussão atual não só nas cidades mas também em muitas aldeias da Amazônia brasileira. Isso acontece graças à AGIR, a Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia. A entidade foi criada em 2015 para que as mulheres pudessem compartilhar experiências entre culturas distintas e para que suas vozes fossem ouvidas. Hoje o coletivo ultrapassa as 500 integrantes em um estado que tem cerca de 15 mil indígenas de mais de 50 etnias diferentes. Contudo, a luta da AGIR vai além dos limites de Rondônia.
Além dos encontros e reuniões realizadas, a associação também participa de conselhos de políticas públicas, incentiva e mantém a troca de experiências com indígenas de outras regiões e participa de manifestações pelo país. “As brancas têm uma luta muito grande porque querem ser protagonistas de suas histórias”, diz Leonice Tupari, coordenadora da AGIR, sobre a diferença do feminismo da cidade e o da aldeia. “As indígenas batalham pensando nos filhos, maridos e na comunidade em geral.”
Hoje, apesar da relação entre os povos ser menos cruel do que já foi um dia, a principal luta da AGIR ainda é contra o “invasor” – geralmente garimpeiros, grileiros e madeireiros. “Eles destroem nossas florestas e rios sem pensar que é de onde tiramos nossa comida e material para artesanato, sem contar que levam bebidas e drogas para as terras indígenas”, lamenta Shirley Arara da aldeia Karo Pajgap.
A situação dos indígenas no Brasil é difícil. No ano passado, o Ministério da Justiça cortou mais de 50% do orçamento da FUNAI. Contudo, as guerreiras da AGIR continuam na luta. Valdenilda Massaka Karitiana da aldeia Caracol desabafa: “Eu sofro vendo meu povo sendo marginalizado e discriminado, mas acredito que nós vamos conquistar nosso espaço, porém nossas conquistas têm que ser coletivas, junto com as lideranças, os caciques, os mais velhos e as outras mulheres”.