Às vésperas da desocupação, famílias do Túnel Augusto Lucena não têm para onde ir
Fonte: Diário de Pernambuco
Por Tatiana Ferreira
Às vésperas da desocupação ordenada pela Justiça na Comunidade Pocotó, localizada em cima do Túnel Augusto Lucena, em Boa Viagem, as famílias ainda não sabem para onde ir. A notificação, segundo os moradores, foi entregue pelo oficial de justiça na segunda-feira passada e estabeleceu três dias para a retirada. No entanto, sem nenhuma garantia de moradia às mais de 40 famílias estão perdendo o sono com a possibilidade de viver na rua.
O coordenador estadual do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), Tibério Gouveia, informa que acionou os advogados populares assim que soube do caso da comunidade. Na noite de hoje, o movimento se reunirá com os ocupantes a fim de articular maneiras de impedir a desocupação. “Prezamos, acima de tudo, o diálogo. Esperamos que, pelo menos, a Prefeitura abra o espaço para conversar”, explica Gouveia, enquanto ressalta o direito fundamental ao teto que é garantido pela Constituição.
O sentimento de mobilização é constante. Uma das moradoras, Jarmelina Lindalva, 46, mostrou as marcas de olheiras das noites mal dormidas. Ela, que trabalha em uma casa de família há dez anos, veio de Lagoa de Itaenga para a comunidade. Com o dinheiro de um salário mínimo, ela construiu sua casa de alvenaria no local por R$ 8 mil. Naquele pequeno espaço, sustenta e mora com os quatro netos. “Não tem sossego. Para onde formos, é irregular. Vão sempre nos retirar e nós vamos viver nos mudando”, reclamou.
Por isso, já é certo: amanhã haverá protesto se houver repressão. Luciana Maria Barbosa, 26, bateu o pé e disse que não sai. “Se sairmos, perdemos todos os nossos direitos”, protestou. Ela mora no local há 19 anos e, para construir a casa onde vive com os dois filhos, teve que tirar da sua renda que garante através da venda de cachorro quente e hambúrguer na própria comunidade. Segundo ela, o oficial de justiça sugeriu que ela construísse seu barraco do outro lado do túnel.
Mas a orientação do MTST aos ocupantes é que resistam. A nota do movimento declara que “não aceitará violência contra as famílias trabalhadoras e apoiará a resistência legítima para a defesa do direito à moradia”. Só que a sensação de insegurança faz com que, os que têm minimamente condições, procurem um plano B. Jarmelina atravessou o túnel e o Viaduto Tancredo Neves a procura de um terreno. Demarcado com estacas de madeira e plantas, o quadrado de terra será o ponto de partida para a senhora se não houver outro jeito. “Não vou desistir. Mas não posso deixar meus netos na rua”.
A Secretaria de Infraestrutura e Habitação e a Secretaria de Saneamento do Recife, por outro lado, está concluindo 1.293 moradias em dez conjuntos habitacionais. No entanto, para ser contemplado, é preciso se cadastrar nos programas de habitação. Processo que, no caso da Comunidade Pocotó, é inviável ante a demora e a iminência de viver na rua. Como foi exposto pelo coordenador estadual do MTST, Gouveia.